Contra a diminuição da maioridade penal

À medida que se intensifica o debate sobre a redução da maioridade penal, a imprensa tem publicado várias matérias a respeito, contendo argumentos sérios, que é interessante ler, anotar, guardar e divulgar.

Vamos resgatar algumas matérias que saíram recentemente na Folha de São Paulo:

Populismo Penal, Folha de São Paulo, 5/4/2015, Opinião, pág. A2

A aprovação de leis ao sabor de clamores populares e circunstâncias políticas tende a quebrar a arquitetura normativa. Mais que isso, diminui as garantias do indivíduo perante os poderes constituídos. Numa sociedade ainda muito desigual, a experiência passada sugere o quanto, na prática, o endurecimento penal há de ser aplicado de forma seletiva no futuro.



A Bancada do Medo, Vladimir Safatle, Folha de São Paulo, 7/4/2015, pág. A2

O Congresso Nacional conseguiu chegar ao seu ponto mais baixo nos últimos dias com o envio da proposta de redução da maioridade penal para o plenário da Câmara.
Lutando desesperadamente para ganhar alguma popularidade em uma situação de descrédito completo, comandadas por dois senhores diretamente indiciados no escândalo da Petrobras, as duas Casas dão agora seus primeiros passos no projeto de remeter o Brasil à Idade Média.
O melhor remédio contra o crime nunca foi "a punição como espetáculo", mas a construção da coesão social.



Justiça e Direito para Todos, Orlando Silva, Folha de São Paulo, 4/4/2015, pág. A3

“A violência assusta a todos os brasileiros, independentemente de condição social, econômica ou faixa etária. Não importa onde moramos nem o que fazemos. A insegurança é parte do nosso cotidiano e todos nós buscamos o direito de viver sem medo.
A violência é um problema complexo, resultado de diversos fatores. Soluções simplistas são falsas e ineficientes. Pior ainda, podem agravar os problemas. É nesse contexto que está a proposta de redução da maioridade penal no país.”


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Dentre os 42 deputados que aprovaram na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara Federal o andamento da proposta de redução da maioridade penal, 25 são alvo de inquéritos por crimes eleitorais, porte ilegal de arma, compra de emendas, acusados de integrar a máfia das ambulâncias, de improbidade administrativa, desvio de verba e investigados na Operação Lava Jato. 


MUNIR CURY, procurador de Justiça aposentado e coordenador das Promotorias de Justiça da Infância e da Juventude de São Paulo de 1985 a 1999. Folha de São Paulo, 05/04/2015, pág. A3

Como um dos redatores do capítulo "Da Família, da Criança, do Adolescente e do Idoso" da Constituição e do ECA, conscientizo a população da panaceia e da farsa que a Câmara procura impingir à nação. Nenhum Estado da federação aplica efetiva e eficazmente medidas que objetivem a ressocialização de adolescentes infratores, as medidas socioeducativas previstas em lei não são efetivadas a contento e, assim como nos cárceres, os estabelecimentos de internação são escolas do crime. Os governos estaduais deveriam investir na educação e no acompanhamento dos adolescentes infratores.

Drauzio Varella, Folha de São Paulo, 4/4/2015, pág. C8

 “Trancar adolescentes em celas apinhadas de criminosos profissionais pode atender aos desejos de vingança da população assaltada por eles nas esquinas, mas é uma temeridade”

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Um grupo de investigadores e funcionários da Polícia Civil de Ouro Preto (MG) lançou nesta semana uma campanha independente contra a redução da maioridade penal.
"Somos garantidores dos direitos. Sob nosso ponto de vista, a tentativa de reduzir a maioridade penal vai resultar em um encarceramento em massa de uma classe que já é assolada pela desigualdade social", diz. "Não quero me tornar uma ferramenta pra isso", completa
"O Estado não pode se omitir de suas obrigações com saúde, educação, cidadania, e deixar tudo isso a cargo da segurança pública."
"O que vemos aqui em Ouro Preto, como na maioria dos lugares, é que as medidas socioeducativas não são eficazes e os adolescentes perdem a oportunidade de se ressocializarem”


Ódio de gente grande, Luiz Fernando Vianna, Folha de São Paulo

"Cadeia não conserta ninguém", disse anteontem Marco Aurélio Mello. Proferida por um ministro do Supremo Tribunal Federal, a frase deveria balizar o debate sobre redução da maioridade penal. Mas não vai por um simples motivo: boa parte dos que apoiam a proposta não quer mesmo consertar ninguém.


SILAS CORREA LEITE, professor, escritor e membro da União Brasileira de Escritores (UBE)

Quando pudermos prender nossos adultos, sem exceção, e tivermos seres humanos honestos, então poderemos, tendo referenciais de ética e humanismo, cobrar dos jovens e crianças –que são sequelas de nossa sociedade, de nosso meio e cultura– que eles sejam o que realmente somos. Se não somos uma sociedade de santos, se temos uma Justiça corrupta, uma sociedade pantanosa e uma mídia amoral globalizando a vergonha e a impunidade, não podemos querer crianças e jovens santos.

JAIRO FONSECA, advogado ex-conselheiro da OAB/SP e ex-presidente da CDH/OAB (Belo Horizonte, MG), Folha de São Paulo, dia 4/4/2015

Cumprimento ao professor Silas Leite. A sociedade que semeia bandidos e quer colher cidadãos é muito pobre de razão ou muito rica de cinismo. Pior, seu Parlamento é o seu espelho. Que se de eficácia ao artigo 1 do ECA: proteção integral a criança e ao adolescente . Antes disso, falece ao Estado legitimidade para cobrar responsabilidade penal. Teríamos adolescentes criminosos condenados por um Estado delinquente, para o delírio de uma sociedade farisaica manipulada por uma "mídia amoral".


Quem desejar continuar a pesquisa na Folha de São Paulo pode utilizar o link:


Um comentário:

Cássia Vieira de Melo disse...

Ótima seleção de artigos e reportagens! Parabéns!