Um grande
número de pessoas tem como único lazer assistir a televisão o dia inteiro. E
tem uma atração pelos programas ditos policiais, onde cenas de violência são
apresentadas, ampliadas e repetidas à exaustão. As câmeras ocultas servem muito
a este propósito, com os comentários exageradamente indignados, condenatórios,
amplificando as cenas.
Uma cena da explosão de caixas eletrônicos de madrugada
é repetida com o comentário: “vejam a brutalidade da explosão”, “são realmente
violentos”, “os marginais aproveitaram a madrugada para executar o crime”, “a
explosão foi tão violenta que acordou os vizinhos assustados”. A cena de
assalto a uma loja é comentada: “veja a audácia dos safados, chegaram a dar
tchauzinho para as câmeras”, “o covarde agride friamente a funcionária”, “ele
carrega tudo que pode”. Cenas de prisão, com os presos sem camisa, algemados,
sendo jogados na traseira das viaturas: “Este deveria ser condenado à prisão
perpétua”, “merece a pena de morte”, “daqui a pouco estará solto para cometer
mais crimes”, “isto só acontece com a justiça no Brasil”. E as cenas são repetidas
várias vezes no mesmo programa e nos dias seguintes.
Existe um
prazer em assistir a estas manifestações de brutalidade, tanto nas cenas de
roubo, assalto e explosão, como nas da perseguição e prisão dos autores. Prazer
masoquista, pois acarreta sentimentos de fragilidade, de impotência, perante o
criminoso e de vitimização: “A violência aumenta cada vez mais; não sei onde
isto vai parar”. Como conseqüência vem a cegueira que impede o reconhecimento
das ofensas aos direitos humanos: em primeiro lugar feitas pela televisão na apresentação
de programas degradantes que desrespeitam telespectadores, vítimas e culpados e
eventualmente, também, ofensas na ação dos agentes policiais.
Esta enorme
massa de telespectadores fornece um índice de audiência imenso que se
transforma em lucro financeiro para a emissora e que a estimula a manter o
programa e acrescentar sempre cenas cada vez mais escabrosas. E a emissora
também se esquece de suas normas de ética, ofendendo vítimas, crianças e
adolescentes, mulheres e telespectadores, em busca de dinheiro.
Tal foi o
acontecimento recente, em Fortaleza, que atingiu desrespeito inimaginável. Manifestamos
nosso apoio ao Ministério Público do Ceará em processo contra a emissora e
nossa solidariedade ao CEDECA – Centro de Defesa da Criança e do Adolescente do
Ceará pela mobilização de pessoas e entidades na repulsa a estes crimes.
Leia matérias
de:
Bruno Marinoni, na revista Fórum
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